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GranFondo Lisboa '18


GranFondo Lisboa '18

Tudo começou em Dezembro de 2017 mas só reuni o capital em Janeiro e consegui uma vaga num "fondo" ao pé de casa!

Eu nem sabia o que era ao certo. Era estrada, era mais de 120 km, era sempre a subir, era cool, pensava eu. Enfim...

De Janeiro a 22/Abril tentei calmamente reunir as condições para realizar o evento: a bike e o Jorgex. 

Bike

Tinho várias hipóteses. Podia tentar desempenar o quadro da Peugeot e pronto. Ou meter rodas de estrada e arranjar uns travões para o efeito.
Podia modificar a minha Scott Aspect 940 '13 com pneus 700 e meter a minha melhor transmissão de 9vel com 2 pratos, arranjar um espigão/selim/avanço/guiador mais indicados e talvez uma forqueta em carbono ou em alumínio para tirar 2kg.
Havia uma alternativa interessante que era procurar na interweb uma bike de estrada usada ou mesmo uma bike vintage e actualizar alguns componentes, mas até 200 euros. Até havia ponderado uma bike emprestada para o fim de semana em questão.
Isto são cenários que fui conceptualizando durante o meu commuting. Entre semáforos vermelhos e ciclovias, lá fui pensando no material usado que tinha em casa. Os dias foram passando com  inventários, pesquisas e especulando possíveis cenários para a concretização do granfondo.
Rapidamente concluí que a geometria duma bike de estrada iria dar cabo das minhas costas. Simplesmente não tinha musculatura lombar forte o suficiente para aguentar os 140 e tal kilómetros. Portanto, risquei as ideias de bike de estrada e pesquisas na net. Segundo, tenho imenso material em casa para construir uma bike razoável com 9vel. Terceiro, o tempo é escasso. A única solução era melhorar a minha Scott.

A Scott Aspect 940 '13, no fim de contas, é uma bike de gama baixa ou gama de entrada para montanha. O quadro é exagerado em todos os sentidos mas a qualidade está lá. O mesmo não se pode dizer dos componentes originais, que não aguentam fazer 150km semanais. É bike para passear até 150km por mês.
Foi uma benção!

Para a minha forma de pedalar, peso elevado, travagens exigentes e etc, tive de modificar transmissão, pneus, avanço e guiador. Acabei com o desviador da frente e meti um prato 32t narrow/wide com desviador traseiro SRAM X7. Um guiador mais largo, avanço comprido e punhos de espuma para andar confortável na cidade.
Apesar da nova fiabilidade, a Scott não foi feita para velocidade. É preciso fazer um tunning a sério!

Despi a bike. Ficou quadro, travões, rodas e cranks. Instalou-se shifters e desviador traseiro SRAM XO 9vel, k7 SRAM PC99 com aranha vermelha, pratos RF Turbine 32 e 44T pretos, desviador da frente Shimano Deore e corrente Shimano XT. Depois montou-se componentes para personalizar a posição como o avanço Roox (o meu segundo componente comprado em 1999 por 10 ou 12 contos) e guiador Easton EDR. Não esquecer o espigão canibalizado da Canyon, um Thomson de 360mm de comprimento e um selim Selle Italia SLR. Só restava os pneus e após muita procura, optei por pneus slick bastante largos: Panaracer Pasela PT 622-38 com skin wall. Peso final, 12.1Kg.

Nesta altura fiquei muito apreensivo sobre o uso camelbak ou do tradicional bidon e bolsa debaixo do selim.
Optei pelo CamelBak e levava mais 1 gel.

Psicologia

Não pensei muito, já tinha a experiência de vários Alvalade-Porto Côvo e duas idas a Fátima. Contudo, passei o mês de Abril a verificar diariamente a meteorologia para os dias 21 e 22. Aproveitei também para expandir o meu horizonte e não fui abaixo com comentários do tipo - és maluco, aquilo é só profissionais, participas para ganhar ou ficas em casa, não tens bicicleta. - Contei pelos dedos da mão os amigos e conhecidos que me deram apoio.
Acabei com o negativo e parti para a positiva. Só pensava no quanto eu tinha evoluído para melhor: perdi 35kg, já faço CNC, já faço trabalhos manuais, há dois anos que não como carne.

Físico

Não tive recursos para tal pois trabalho a tempo inteiro e ainda tinha formação da Cenfim à noite, portanto, só conseguia pedalar durante o commuting. Ainda fui "abençoado" com o inverno bastante chuvoso. Eu cheguei a pedalar 4 semanas com galochas e levei umas 10h a pedalar para voltar a adaptar aos SPDs... Aos fim de semana encostava a bike.
Se tempo para pedalar foi ruim, a dieta foi ainda pior pois por causa das más condições climatéricas, o meu peso estabilizou nos 85kg (invés dos habituais 83kg). Portanto, confiei no meu commuting ou junk miles de 600km por mês.

Topografia

A organização publicou o percurso no Facebook 10 dias antes e o "dossier do participante" por email a 2 dias antes da prova!
Achei o percurso estranho pois esperava subida do princípio ao fim.
As subidas de Cabeço de Montachique e Colares eram penosas, aliás, pensei que iram demorar 1h a transpor cada uma. As partes montanhosas de Loures até à Ericeira eram duras. Para piorar, tinha de vigiar o tempo do carro vassoura.
Poucas subidas e muito sobe e desce.


Deixei o mau tempo passar e na semana do evento, aparece o sol! Dias quentes e agradáveis, porém, o sábado foi chuvoso e o dia da prova chegou.

Primeiro Gran Fondo Lisboa

Levantei, consegui fazer tudo na casa de banho, tomei o pequeno almoço habitual e equipei me. Já havia preparado tudo na véspera e bazei. Desci a estrada N117, virei no Restelo e rapidamente cheguei à box. Aguardei debaixo dum ligeiro aguaceiro. Fiquei feliz por estar confortável com os manguitos novos. Estava frio mas apenas quente o suficiente para estar confortável com os kilómetros que virão e não para o momento presente.
No dia a seguir, commuting prá frente!
Vi poucas bikes de montanha. Encontrei uma Scott igualzinha à minha Aspect só que era superior. Vi uma Spec Epic em carbono, uma Focus de all-mountain com pneus fininhos, uma Scott Tampico de 1996 ou '98 stock e uma Manuel Silva amarela de roda 26! Ainda há heróis, pensei. 

Deu-se a partida. Apercebi que ia à 32km/h ao tentar acompanhar o pelotão e optei por abrandar. Baixei a média para 27km/h e a caminho de Entre Campos tentei comer meia barra pois o pequeno almoço foi às 6h40 e já era 8h50. Não sei porquê, não consegui comer. Sempre correu tudo bem com a powerbar mas no dia da prova não me sentia bem. 

Na descida da calçada para Odivelas recuperei imensos lugares. Mais de 100. Daqui para a frente passei por imensos afunilamentos até ao kilómetro 27 que foi quando acabou o carro de controlo e começou a primeira subida.

Cabeço de Montachique é duro. É ver estrada até ao céu. São 5km com média de 4.8%. Começa bem suave e acaba com 2km @7 e 8%. No final, não há descanso pois inicia a primeira secção montanhosa até Mafra. 
Eu comecei bem (@15km/h), tentei colocar nas rodas dos ciclistas para meu proveito. Nos últimos 2km, o pelotão já estava completamente desagregado. Por causa da baixa velocidade (9km/h), eu transpirava muito. Os manguitos já não eram úteis.
Parei no primeiro abastecimento de líquidos para tirar a "água do joelho", soquei os manguitos no camelbak e bebi um pouco de água enquanto forçava mais um pouco de powerbar que havia aberto 20km atrás. Comecei a passar mal mas nesta paragem de 5min não perdi o foco a segui para Mafra. 

Record Pessoal!
O sobe e desce era exigente. O problema é que as subidas chegavam a ter 500m com 19% de inclinação. O stress nos joelhos era tanto que fiz as subidas @ 6km/h e fiz o primeiro check point A PÉ! Agora percebo porque é que chamam de "parte pernas". 

Desolado, cheguei a Mafra. Nunca havia feito 55km em 3h tão duros. Tentei, novamente, comer o resto da barra sem sucesso e cada vez mais sentia me mal da barriga.
É nesta altura que fui encher o camelbak com água que oiço alguém do abastecimento dizendo que já passou toda a gente e que é para arrumar.
Desmotivado, vejo no relógio do cateye que falta 1h30 para chegar o carro vassoura. Sem força, sem fome e com mau estar, ponderei desistir, todavia, como bom "Touro"que sou, agarrei a Scott e pedalei para sair desde mau ambiente. Nem me lembro de olhar para o monumento. Daqui para a frente não consegui seguir a roda de ninguém.

O estrago estava feito. Tinha dores nos ligamentos dos joelhos, dores nas costas e ombros, porém, tinha uma zona rolante com várias descidas até à Ericeira. Finalmente um descanso, pensei. 
Para meu espanto, as descidas correram mal pois o piso estava molhado. Até ao próximo controlo apanhei aguaceiros ligeiros, malta a lavar os quintais (molhando a estrada) e descidas com orvalho. Apesar de eu descer bem, apanhei vários sustos.

Cortei o logótipo do GF.
Cheguei à Ericeira aos 74km em 3h50. Nem reparei no segundo check point, passagem oficial ao 12h58 com 3h58 no lombo. Apanhei uma zona de paralelepípedos com descida acentuada e gancho à esquerda penosa de subir até dizer basta. Não gostei de passar por Ericeira.
Consegui comer o resto da primeira barra energética que abri em Lisboa e ao kilómetro 77 ingeri um gel para aguentar a subida seguinte. 

Quando cheguei a Carvoeira, sentia me bem. Fiz facilmente a subida de 5km @2.1%. Trata-se duma subida "regressiva" porque o primeiro kilómetro tem 5% de inclinação e vai baixando o declive para 1% nos 3 últimos kilómetros. 

Tinha pela frente uns 20km rolantes até Colares. Como nesta fase já não havia mais ninguém fiz a proeza de falhar o percurso num entroncamento qualquer e só parei na Terrugem. Decerto que foi num sítio onde não havia um GNR. 
Desorientado, parei numa paragem de autocarro, sentei e vi no GoogleMaps onde eu estava em relação ao track da prova. Tracei uma tragetória de regresso com esperança não ser apanhado pelo carro vassoura.
Quando chego ao entroncamento em São João das Lampas, passa um carro da GNR, carro de apoio, 3 ciclistas e o carro vassoura. Consegui entrar de volta e como rolava @ 30km/h, facilmente passei por todos. Até ao kilómetro 106 fui sempre a dar ao pedal, excepto a breve paragem no abastecimento na Praia da Maças para repor água e comer 1/4 de laranja.

Colares foi desmoralizante pois levei 1h para chegar ao terceiro check point e a dor nos ligamentos dos joelhos voltou, costas e ombros voltaram. A dor era tanta que quando começar a descer a serra pensei como seria os restantes 40km, chegar a Belém e bazar dali para fora pela N117 ou rolar penosamente até ao Cais de Sodré e apanhar o metro, para no final subir outros 2km com 7% de inclinação até casa...
Após muita cogitação e fazer algumas curvas na serra com má qualidade da minha parte, achei perigoso. É algo que já trago do btt que é fazer subidas rapidamente e fazer descidas com as pernas cansadas. Não é divertido e é aqui que acontece as colisões e saídas do trilho.

Não me arrependi mas pondero fazer
 a experiência sem camelbak.
Desisti algures na Azoia. Esperei 30mins pelo carro vassoura. Nessa meia hora passou 3 ou 4 ciclistas. Quando abre a porta do autocarro, arrependi-me de ter desistido mas tinha de pensar na minha falta de logística, de não ter ninguém para me vir buscar.

A viagem até à meta foi morosa. Eu dormi o tempo inteiro.

Cheguei ao destino, tive um elemento do carro de transporte das bicicletas a confirmar se o dorsal da bike coincidia com a minha pulseira e arrastei os pés até à restauração. Comi uma porção oleosa de "Legumes à Brás" e um copo de sumo de laranja gaseificada pirata super gelada. Sentei-me num cantinho e fiquei lentamente a ruminar. Bebi um café para ver se ressuscitava e gamei duas cervejas. Eu não bebo mas ficam lá em casa para decorar o frigorífico. Agradeci ao segurança que vigiava as bikes e lentamente rolei 6 ou 8km até ao metro. Mais de 20mins de viagem em pé e subir lentamente até casa.

End of line!

Pós GranFondo

Não gostei. Só me lembro das subidas, do cenário das mesmas e a vista para o mar após Ericeira, cheio de surfistas.

Este evento foi caro para a réplica duma etapa da Volta a Portugal. Como forma de protesto pela falta de qualidade mostrada na escolha do percurso, ainda tenho o jersey do evento selado no saco. Uma sugestão de percurso seria arrancar direto para Ajuda, Monsanto e descer para rotunda do Marquês. Isto era um bom preludio mas não, fomos viajar pelas partes mais rolantes de Lisboa.

A Scott portou-se bem, contudo, para um fondo como deve ser, 1 prato de 32T ou 36T bastava pois ia passar o tempo inteiro a subir.



PS - Em 1223 participantes, eu ficaria nos 1003 da geral e 282 na minha categoria Masters A, constituída por 331 inscritos.

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